domingo, 23 de janeiro de 2011

Sofrimento Contaminado


   Numa noite cinzente, Marcos em seu quarto escuro, um silêncio absoluto o envolvia, usava a mesma seringa do dia anterior. Os delírios e alucinações causados pela droga vinham de multidões em sua cabeça. Sentia-se com uma feição medonha, tosses persistentes envolvia sua magra e comprida garganta e seu corpo manifestava não só efeitos da droga, mas sintomas de formas assustadoras o corroía.
   Tempos depois, Marcos não estava em um quarto solitário, mas sim em um quarto de hospital. '' O que estava fazendo ali? Será que aqueles sintomas a mais que sentiam em seu corpo, seria a razão de estar entre tantas enfermeiras? '' Logo veio o diagnóstico: Havia adquirido o vírus HIV.
   Seu mundo explodiu, não havia um caminho que pudesse recorrer. Seus pais haviam morrido quando era criança, passou a vida toda no orfanato. Em seu quarto, seus olhos castanhos iam à  velha fotografia de seus pais, os únicos que poderiam salvá-lo. Voltava novamente às seringas.
   Dentro de Marcos, somente havia revolta, apatia, desespero e angústia. Sua responsabilidade e a culpa por ter sido infectado pelo vírus o trazia medo da discriminação e rejeição pelas pessoas. Usava mais e mais seringas, só aquilo que poderia lhe trazer sensações de prazer. Mas os delirios e alucinações se misturava com sua vida real, que se tornava como demônios em seu quarto, o arrastando cada vez mais para baixo. O excesso de drogas que usava, poderia leva-lo ao suicídio. '' O que fazer? Pedir ajuda ou continuar usar droga até se suicidar? '' Marcos se levou por violentas razões ilusórias.
   A noite cinzenta dava seu lugar ao sol que aparecia, clareando e dando luz ao um quarto que o silêncio o envolvia. Uma luz que Marcos jamais conseguiu encontrar em seu sofrimento, um sofrimento contaminado por um vírus.

                                                                        Mateus  Martins

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